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VÍDEO: os relatos de quem atua no front contra o coronavírus em Santa Maria

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O cuidado a um paciente doente, em tempos normais, já é um processo complexo e que exige trabalho em grupo. Durante uma pandemia como a que vivemos atualmente, tudo fica ainda mais complicado. Uma parte essencial deste trabalho é realizada pelos técnicos em enfermagem, profissionais que atuam diretamente com as pessoas, vivenciando na pele as dores, as tristezas e os dilemas, mas também as alegrias, as conquistas e a gratidão. Hoje, dia 20 de maio, é comemorado o dia desta classe, de vital importância nos fronts de batalha contra o coronavírus, e o Diário foi ouvir os relatos de três profissionais da cidade que encaram de frente os desafios impostos diariamente pela Covid-19.

VÍDEO: no Dia do Enfermeiro, os relatos de quem enfrenta o coronavírus diariamente

O técnico em enfermagem, supervisionado por um enfermeiro, tem a função de auxiliar nas atividades que envolvem o cuidado com os pacientes e uma formação mais voltada para procedimentos práticos. O curso tem duração de até dois anos, menor que uma graduação de Enfermagem, que costuma ter cinco anos.
Muito obrigado, técnicos em enfermagem!


"A gente sorri com os olhos"
data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Felipe Backes (Diário)

Cátia Regina Aguirres, 36 anos, técnica em enfermagem na Casa de Saúde e UPA
"Praticamente todos os pacientes me marcaram. Eles entram para o isolamento e não têm mais contato com familiares. A gente tenta ficar ali com eles, conversar, escutar. Eles também sentem falta dos familiares, e a gente está ali para ajudar. Isso marca bastante. Eles ficam sem esse contato, é só a gente que está ali com eles. A pandemia do coronavírus também mudou a forma de pensar, de agir e os cuidados. Tanto em casa, quanto aqui, na chegada, lavamos as mãos antes, nos aparamentamos com todos os EPIs. Com as pessoas, a gente tenta cuidar o máximo possível, informando e orientando a lavar as mãos. Às vezes, muitos não entendem, da questão de não colocar a mão na máscara. Por usar máscara todo o tempo, a gente sorri com os olhos. Acho que fica bem difícil, pois às vezes eles não conseguem enxergar o que a gente está demonstrando, por vezes não entendem. Por isso, é importante conversar. Os técnicos são os primeiros a estar do lado do paciente. Sempre informando, ajudando, escutando. Como somos os primeiros, temos essa importância. Outro momento marcante e diferente é o óbito. Os familiares não podem se despedir, então é muito diferente. É a gente que fica ali, não podendo tocar, abraçar, apenas podendo escutar os familiares, sem que eles possam se despedir. Fica muito difícil essa parte. Após tudo isso, o comportamento e o pensamento serão bem diferentes. Tanto cuidar como o escutar as pessoas. As atitudes vão ser diferentes, no sentido de ajudar mais o próximo, de ficar mais junto com a família. Se puderem, fiquem em casa. Saiam só quando necessário. Tomem todos os cuidados, é muito importante. Levem a pandemia a sério."

"A gente fica com bastante medo por nós, pelos colegas,e pelos familiares que a gente deixa em casa"

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Bruna Luciele da Rosa Peres, 23 anos, técnica em Enfermagem no Hospital Alcides Brum
"Trabalho como técnica de Enfermagem há três anos, e o que estou vivendo agora é totalmente diferente do que anteriormente. Na UTI é complicado, pegamos pacientes críticos, mas agora, com o medo do vírus, é mais complicado. A gente fica com bastante medo por nós, pelos colegas, pelos familiares que a gente deixa em casa.

Eu moro nos fundos da casa da minha mãe. Então, para entrar chego direto em casa, não vejo mais ela, nem meu pai e meus irmãos. Chego em casa, tomo banho, tiro a roupa que saí do Hospital, deixo em uma área separada, não entro com o mesmo calçado dentro de casa. Tenho bastante medo de cumprimentar minha mãe, de chegar lá na frente. Não quero passar o vírus para eles. Já fazem uns quatro meses que não tenho contato com eles. Nos falamos pelo WhatsApp, pelo grupo da família.
No Dia das Mães, conversei com ela pela internet. Eu trabalhei naquele dia, e tinha uma paciente que me marcou bastante, pois ela estava muito triste de estar ali, internada. Eu fiquei triste por ela e por não estar com minha mãe naquele momento.
Outros dois momentos me marcaram muito. Primeiro, quando um paciente foi entubado. Ele ligou para os familiares, comunicou o que estava acontecendo. Marca, pois não se sabe o que vai acontecer depois. Ele se despediu, conversou bastante com a esposa. E depois, quando ele foi extubado, foi um momento gratificante para todos. Ele saiu bem, acordou bem, conversando, agradeceu a todos. Foi maravilhosa a hora que ele deu alta.
Eu sou bem humana. O paciente é tudo, é o amor da vida de alguém, então trato ele da melhor forma. Mas o diferencial que vai sair da pandemia é esse elo com a equipe, o entrosamento que a gente tem. Um cuida do outro, para ninguém se contaminar.
A gente está aqui, está se arriscando. E é bem complicado ver que parte da população não está se cuidando, não está usando máscara, se aglomera em mercados, levam crianças. É complicado, pois no momento em que se perde alguém próximo de ti, aí sim vai se dar valor aos pequenos momentos."

"Não me sinto um super-herói"

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Foto: arquivo pessoal

Fabrício dos Santos, o Frank, 39 anos, técnico em enfermagem do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm)
"Trabalho no Hospital Universitário de Santa Maria há 17 anos, já trabalhei alguns anos no pronto-socorro, alguns anos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e agora voltei para o pronto-socorro. Nestes 17 anos, já vivenciei vários problemas, trabalhei na H1N1, na tragédia da Boate Kiss, e agora estamos passando por essa pandemia da Covid-19. Essa é a mais complicada de todas as batalhas. Vejo que o Husm se preparou, a gente teve um tempo para se preparar, mas a cada dia que passa vem surgindo coisas novas, o vírus vem se espalhando muito rápido. Vejo que parte da população não dá bola, mas o caso é bem complicado.

Como técnico de enfermagem, me sinto honrado de estar aqui trabalhando, no front, como a gente fala. Enfrentando a pandemia, vendo os pacientes chegando todos os dias. Também, a cada dia que passa, vejo meus colegas mais nervosos, preocupados. Nisto, o Husm criou e está realizando testes, e me colocou nesta função. Nas atuais circunstâncias, eu trabalho testando os colegas e coletando o material. Noto que, coletando o material dos funcionários, eles se sentem mais aliviados de, por enquanto, não estarem contaminados, de não levar o problema para as próprias casas, para familiares, que é uma das grandes preocupações dos profissionais. O mais complicado para mim, é que desde que começou a pandemia estou longe dos meus filhos. Já fazem dois meses que não consigo ver eles. Esse é o pior para mim. No meu capacete, carrego os nomes deles, Ítalo e Alice, já que não posso vê-los. Minha mãe tem problemas cardíacos, moramos juntos, e não posso abraçar ela, não posso beijar. Todo dia, quando chego em casa, tenho que ficar longe dela. Mas estamos aí. É a profissão que escolhi. Não me sinto um super-herói, me sinto um profissional capacitado em realizar minhas atividades. Só peço que, ao passar dessa situação, as pessoas comecem a dar mais valor para nossa profissão, a Enfermagem como um todo. Meu desejo é que a população siga se cuidando e que meus colegas de profissão sigam de cabeça erguida nessa batalha. Depois da nossa vitória, virão as medalhas."

*Colaborou Felipe Backes

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